Há várias definições para “alimentos funcionais”. A Academia de Nutrição e Dietética dos Estados Unidos os define como “alimentos naturais, assim como com aqueles fortificados, enriquecidos ou melhorados, que têm efeito potencialmente benéfico à saúde, quando consumidos frequentemente como parte de uma dieta variada, cujos níveis de eficiência são baseados em padrões de evidência significativos” (1). Os alimentos funcionais estão na forma somente de alimentos, modificados ou não, que podem prevenir doenças.
O termo “nutracêuticos” é frequentemente usado como intercambiável com alimentos funcionais. Porém, eles não têm o mesmo significado (2). Nutracêuticos referem-se a qualquer componente bioativo que forneça benefício à saúde, comumente na forma de suplemento ou alimento medicinal. Alimentos medicinais são aqueles formulados com o objetivo de manejar uma condição ou doença. Um exemplo é a fórmula sem fenilalanina para pacientes com fenilcetonúria. Já os suplementos não são alimentos e têm o objetivo de suplementar a dieta. Portanto, os termos “nutracêuticos” e “alimentos funcionais” não podem ser usados como substitutos.
Todos os alimentos são funcionais em algum nível, já que proveem energia e nutrientes necessários para sustentar a vida. Entretanto, há evidência crescente de que alguns componentes alimentares, não considerados nutrientes no senso tradicional, podem fornecer benefícios à saúde. Os alimentos que contêm esses componentes são chamados de “funcionais”. Vitaminas, antioxidantes e ácidos graxos ômega-3 são exemplos de componentes alimentares bioativos baseados em nutrientes. Estes têm grande uso no mercado. Já os flavonoides, isoflavonas e outros fitoquímicos fenólicos menos conhecidos são exemplos de componentes alimentares bioativos não nutrientes. Eles estão sendo incorporados em vários produtos no mercado, que passam a ser considerados “alimentos funcionais”.
Os alimentos funcionais incidem em três categoriais gerais (1):
- Alimentos convencionais que contêm componentes alimentares bioativos naturais. A maioria das hortaliças, frutas, grãos, laticínios, peixe e carnes vermelhas contém componentes que fornecem benefícios, além da nutrição básica. Exemplos são as vitaminas antioxidantes do suco de laranja, isoflavonas dos alimentos à base de soja, prebióticos de alguns vegetais, como a alcachofra, e probióticos do iogurte.
- Alimentos modificados que contêm componentes alimentares bioativos a partir do enriquecimento ou fortificação. Um exemplo é o ácido graxo ômega-3, incluído na margarina e nos ovos.
- Ingredientes alimentares que são sintetizados, como os carboidratos indigeríveis, ou que fornecem benefícios prebióticos, como os oligossacarídeos ou o amido resistente.
As pesquisas com alimentos funcionais são muito promissoras. Os estudos focam em componentes nutrientes e não nutrientes, e em seus papéis na prevenção e redução do risco de doenças. Porém, para alcançar tais resultados, a pesquisa científica deve estabelecer, efetivamente, a biodisponibilidade e a eficácia desses componentes em concentrações que são fisiologicamente alcançáveis em padrões alimentares típicos. Porém, a avaliação da biodisponibilidade dos componentes de alimentos funcionais é complexa. A biodisponibilidade é a medida da absorção e disponibilidade para utilização de uma substância específica. Ela depende de muitos fatores, como propriedades dos alimentos, composição da dieta e diferenças fisiológicas entre indivíduos, em termos de absorção, metabolismo e genética. Depois de estabelecida a biodisponibilidade, os estudos avaliam a eficácia dos componentes em produzir resultados desejáveis, de interesse para a população alvo. Os estudos mais importantes são aqueles de intervenção humana. Entre os aspectos mais desafiadores, está o embasamento da ciência em relação à funcionalidade de um componente dentro de um alimento ou da dieta. A principal preocupação é se a concentração do componente individual é capaz de promover o efeito observado quando associado a outros componentes. Além disso, pode alcançar um ponto de saturação ou níveis tóxicos no organismo, o que limita qualquer benefício potencial. Por exemplo: em condições de ingestão excessiva, componentes bioativos com propriedades antioxidantes podem alterar o equilíbrio antioxidante-oxidante do organismo e passar a se comportar como pró-oxidantes contribuindo, assim, para o estresse oxidativo.
Somente em relação a fitoquímicos fenólicos, mais de 8.000 foram isolados de frutas e hortaliças (4). Eles incluem os mais conhecidos, como os flavonoides, isoflavonas e catequinas, e os menos conhecidos, como os estilbenos, ácidos hidroxicinâmicos e cumarinas. Em geral, os alimentos raramente contêm somente um ou dois componentes bioativos. Eles são compostos por um conjunto de componentes estruturalmente diversos, funcionando com outros nutrientes e não nutrientes funcionais. Com isso, torna-se difícil isolar o componente, que tem maior influência dentro do alimento, para o objetivo de pesquisa e resultados conclusivos.
Portanto, a pesquisa com alimentos funcionais deve estabelecer níveis adequados de ingestão para componentes potencialmente benéficos. Também, dada à diversidade de interações que há entre nutrientes e não nutrientes, os efeitos interativos desses componentes devem ser completamente elucidados. Assim, é possível desenvolver alimentos funcionais com o maior potencial para, sinergicamente, impactarem na saúde humana. Dessa forma, devido ao grande número de componentes funcionais e à multiplicidade de interações, sejam positivas ou negativas, que há em diferentes composições e microestruturas do alimento, a pesquisa em alimentos funcionais requer métodos rigorosos que consomem tempo e apresentam custo elevado.
Referências Bibliográficas
- Academy of Nutrition and Dietetics. Position of the Academy of Nutrition and Dietetics: Functional Foods. J Acad Nutr Diet. 2013; 113:1096-1103.
- Codoner-Franch P, Valis-Bellés V. Citrus as functional foods. Curr Topics Nutraceut Res. 2010; 8(4):173-183.
- Yamada K, Sato-Mito N, Nagata J, Umegaki K. Health Claim evidence requirements in Japan. J Nutr. 2008; 138(6): 1192S-1198S.
- Robbins RJ. Phenolic acids in foods: An overview of analytical methodology. J Agric Food Chem. 2003; 51(10):2866-2887. I
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