segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

TUDO É CARGA ( por Luís Henrique Pellanda)

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"Bem, aqui vai uma platitude, e perdoem: tudo é relativo. Assim, para as cortadeiras"(parêntese, ele falava de formigas)", também eu devia ter meus mistérios- o gigante que ia e vinha de locais remotos, rebocando uma menina. Para elas, quem sabe sabe, minha filha, era minha folha, meu suprimento de energia renovável para tempos ruins,
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Dia desses, na Galeria Andrade, encontrei um homem puxando um avião de brinquedo, feito ferro-velho. Parecia uma  desses heróis de ambíguos de faroeste, um tipo de cavaleiro solitário, percorrendo a rua principal de uma cidade estranha. A diferença é que o povo, à porta das lojas, se importava mais com o cavalo atrás dele, levado por uma cordinha, do que com o próprio forasteiro. E nem podia ser de outro modo aquela nave artesanal e enferrujada era tão atraente que me impediu de fixar na memória, a aparência do piloto. De seus trajes, traços, cabelos, olhos, não sobrou nada. E percebi que, às vezes, o que nos define, mais que nós mesmos, é a carga que nos coube.

Pensei, então na minha filha. Há duas semanas, no caminho da escola, um mendigo que sempre encontramos na Vicente Machado sem bagagem visível- perguntou  a ela  se não estava cansada. Devolvi a pergunta, mesmo sabendo que não era para mim: cansada de que?

RESPOSTA DO MENDIGO: "De tanto carregar este esse pai, disse o cara", se preparando para levitar.

PERGUNTO AGORA, eu, Louise,: E VOCÊ, QUE PESO CARREGA? QUAL SUA FONTE DE ENERGIA? NO QUE PRESTA ATENÇÃO? COM O QUE VOCÊ LEVITA?



FONTE: Jornal Gazeta do poco, Sessão PONTOS DE VISTA, DE 26 de Maio  de 2015.

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